segunda-feira, 17 de maio de 2021

ENTREVISTA COM O TERAPEUTA GUILHERME YANAGIDA - revista STATTO

 08/04/2021 às 14h34



Conte um pouco sobre sua trajetória profissional. O que te fez escolher psicologia?

Dificilmente encontramos pessoas que estão realmente dispostas a nos escutar, a prestar a atenção no que realmente queremos dizer. Durante a minha adolescência, percebi que era um bom ouvinte, que gostava de escutar e de tentar ajudar as pessoas de alguma forma e as pessoas que estavam mais próximas de mim, me davam esse feedback. No fim do colégio, esses fatos me fizeram pensar em psicologia. Entrei na faculdade de psicologia logo depois de me formar, em 2010 quando tinha 17 anos de idade. Depois de cinco anos de faculdade, já formado, logo iniciei minha atuação atendendo adolescentes e adultos em psicoterapia. No final do mesmo ano comecei a trabalhar também em uma clínica de hemodiálise. Durante esses anos de formação, além da área da saúde e trabalhar em uma equipe multidisciplinar, passei por experiências na área acadêmica, realizei palestras, orientações e iniciei minha pós-graduação em terapia cognitiva comportamental.

Existem diversas formas de se fazer uma terapia. Conte para nós as mais utilizadas e como funcionam?

Sim existem várias formas de atuação no campo da psicologia, e a psicoterapia é apenas uma delas e é a mais conhecida, mas esse profissional também tem capacidade de desenvolver trabalhamos eficazes atuando no âmbito escolar, jurídico, organizacional, do esporte, do consumidor, entre outras. Vale ressaltar que todas elas devem ter um embasamento teórico, um bom psicoterapeuta, por exemplo, é aquele que leva a sério as técnicas que se propõe a estudar e a praticar, afinal a psicologia é uma ciência!

Acredito que as formas mais conhecidas de um psicólogo atuar em psicoterapia são a psicanálise, a junguiana e a cognitivo comportamental. A TCC – Terapia Cognitivo Comportamental, linha da qual atuo, trabalha basicamente com o princípio de que a nossa cognição (crenças, pensamentos, percepções) influencia nossas emoções e nossos comportamentos. Portanto, o tratamento nessa forma de atuação, trata de aspectos que não estão saudáveis e funcionais dentro dessa tríade: cognição, emoções e comportamentos.

Se você pensa de forma distorcida ou não realista, por exemplo, esse tipo de pensamento pode gerar emoções negativas e comportamentos prejudiciais. Suponhamos que você e seus colegas vão ter uma reunião de urgência, e seu chefe não disse o motivo. A forma de cada um interpretar essa chamada para reunião será muito pessoal, enquanto alguns colegas podem estar tranquilos esperando por ela, outros podem ter reações de ansiedade, supondo que coisas ruins podem acontecer, extremas (mesmo sem evidências). Naturalmente a ansiedade é gerada nesse tipo de situação, mas provavelmente aqueles que terão reações acima do esperado, estarão tendo algum tipo de distorção cognitivo: “tenho certeza que só teremos problemas”, “acredito que eu vou ser mandado embora”, “eu sempre fiz tudo certo, e coisas ruins sempre acontecem comigo”, esses pensamentos distorcidos de catastrofização, prever o futuro, e pensar de forma negativa, tem a capacidade de mudar nosso estado emocional, ficando ansioso. Fisiológico como sudorese, taquicardia, alteração no sono e apetite e comportamental, você pode, por exemplo, pedir demissão antes mesmo de saber o que irá acontecer na reunião. 

Os principais focos da TCC são: foco no problema e no presente, o terapeuta e paciente trabalham juntos e de forma mais objetiva e prática.

Por que você optou por trabalhar com a chamada TCC – Terapia Cognitivo Comportamental? 

Porque é uma das linhas que mais existe comprovação científica, isto é, essa forma de atuação nasceu de pesquisas muito sérias de estudos com pacientes com ansiedade e depressão e foi se desenvolvendo em técnicas práticas e objetivas, que fazem com que a psicoterapia seja mais eficaz em um tempo mais curto. Eu me identifiquei com essa linha ainda no início da faculdade, exatamente por esse dinamismo e objetividade, apesar de gostar também de outras, como a psicanálise.

Quais as necessidades mais comuns aos que procuram por uma terapia? É para todos?

Com certeza a psicoterapia é para todos nós! Afinal, todos nós temos algum problema ou alguma dificuldade, mesmo que minimamente. Além disso, a psicoterapia também é para aqueles que estão bem consigo mesmos, e por conta disso, desejam ir além e se desenvolverem, criarem novas habilidades, descobrirem novas possibilidades e se conhecerem ainda mais. Fazendo um panorama dos casos em que atendi desde a época da minha formação, ainda nos estágios, os casos mais comuns são os de ansiedade, seja relacionado com algum estado pessoal ou nos relacionamentos.

Com a atual pandemia aumentou muito o número de pessoas nos consultórios? Por que?

Pelo que tenho visto sim, exatamente por conta da ansiedade. É esperado que em uma sociedade como a que temos vivido, com tantas escolhas, tem nos bombardeado com informações o tempo todo. E nos leva a uma ideia de que estamos conectados com muitas pessoas 24h por dia e que nos diz que precisamos estar felizes, bonitos, e ter relacionamentos perfeitos. Naturalmente nos leve constantemente a ansiedade.

Agora, se acrescentarmos mais uma pandemia em tudo isso, que nos obrigou a nos isolar e ter mais incertezas, sim, as pessoas vão procurar mais formas de aliviar essa tensão, e que bom! As pessoas precisam buscar mais ajuda, e ajuda especializada. A COVID-19 não só trouxe mais problemas, como nos fez encarar aquilo que mais tememos: a nós mesmos e as nossas reais dificuldades.

O que o paciente que busca pela TCC (Terapia Cognitivo Comportamental) deve levar em conta antes de iniciar o tratamento? E o que ele deve esperar após o término? 

Deve levar em conta que o tratamento precisa do engajamento e da responsabilidade dele, a psicoterapia é formada por técnicas e não por fórmulas milagrosas, por isso a eficácia depende da ajuda mútua entre o psicólogo e o paciente, e não só de uma parte. Após o tratamento, o paciente deve estar preparado para ser o seu próprio terapeuta. Na linha da TCC, é ensinado para o paciente as técnicas necessárias para que ele possa lidar com suas dificuldades, presentes e futuras, isso não quer dizer que em algum momento ele não possa retornar ao processo psicoterapêutico, mas que ele terá mais autonomia para lidar com suas próprias questões, de forma prática e eficiente.

Nós seres humanos enfrentamos diversas fases no decorrer da vida. Uma pessoa que já fez terapia no passado poderá novamente sentir a necessidade de buscar essa ajuda no futuro? É comum?

Sim, como disse anteriormente, pode acontecer de alguém querer voltar para terapia, e isso inclusive pode ser muito saudável. Assim como você disse, como seres humanos enfrentamos diferentes fases na nossa vida, e, portanto, somos mutáveis. As coisas mudam constantemente e com elas nossas dificuldades. Há casos bem específicos em que os pacientes ficam durante anos no mesmo processo terapêutico, porém, na maioria dos casos a alta da psicoterapia é necessária para que o paciente caminhe com suas “próprias pernas” e crie essa autonomia. Quando é realizado um bom trabalho, no futuro ele terá ainda mais consciência de quando e porque precisa retornar para psicoterapia.

Ainda existe muito preconceito por parte da população para buscar esse tipo de ajuda. Em sua opinião por que isso ocorre?

Acredito que esteja melhorando, mas ainda existe. Isso ocorre por conta de um problema que está em todos os âmbitos da nossa sociedade, falta de informação. Hoje por conta da liberdade de expressão, que sem dúvida é importante, também fez com que surgissem vários “donos da razão”, as pessoas afirmam sobre algo que muitas vezes nem conhecem a fundo. O preconceito vem exatamente da falta de informação.

Como lidamos com algo muito delicado que é a saúde mental, o “olhar para si”, é mais confortável que eu nem queira entender o porquê devo pedir ajuda. Expressões como: “tenho amigos” e “tenho uma religião” e por isso não preciso de psicólogo, mostra claramente a falta de informação. Entendo por exemplo, que a terapia cognitiva comportamental é uma linha criada a partir de estudos que compravam sua eficácia, e, portanto, científica, o psicoterapeuta jamais pode ser comparado com um amigo ou uma religião, e não que estas não sejam importantes para a qualidade de vida do indivíduo, mas possuem um papel totalmente distinto.

Nós profissionais da saúde, não só os psicólogos, precisamos conscientizar as pessoas ao nosso redor sobre a seriedade e o verdadeiro motivo em procurarmos ajuda de um profissional da psicologia. Eu pessoalmente fico feliz em ver que grande parte das pessoas ao meu redor mudaram seu “pré-conceito” sobre o assunto, porque eu fui o canal de informação, muitos inclusive fazem psicoterapia hoje.

Quais as principais diferenças entre o psicoterapeuta (psicólogo) e o psiquiatra? Atendem as mesmas demandas?

A diferença basicamente está que enquanto o psicólogo trabalha questões emocionais e comportamentais, o psiquiatra trata de aspectos patológicos dessas questões. A psicologia é uma ciência que estuda o homem e seus aspectos mentais e comportamentais, a psiquiatria é uma área da medicina voltada para transtornos e doenças psíquicas. Como psicólogo preciso entender das alterações psicológicas e suas implicações na vida da pessoa, ao analisar, porém, que essa alteração passa para o âmbito patológico (doença) devo encaminhar ao psiquiatra para que tenha um diagnóstico e se necessário o uso medicamentoso para que o paciente tenha mais qualidade de vida. Na maioria dos casos, é recomendado para esse tipo de paciente o tratamento conjunto dos dois saberes, psicologia e psiquiatria, tendo um resultado com mais qualidade. 

Terapia é coisa de “gente rica”? É possível fazer terapia pelo SUS, ou até mesmo ser atendido com preços diferenciados de acordo com a faixa de renda nos consultórios particulares?

Durante muito tempo na história da psicologia, a psicoterapia foi entendida popularmente como algo para pessoas mais elitizadas. Hoje, porém, existem diferentes formas de encontrar esse serviço, dentro do Sistema Único de Saúde, por exemplo, existem profissionais da área. No nosso município, estudantes de psicologia da Unitau (Universidade de Taubaté) e Anhanguera, contam com a supervisão de ótimos profissionais para atender a população. Há alguns consultórios particulares que também flexibilizam seus preços, dependendo do caso.

Cito aqui também o projeto “Foco na mente” do qual faço parte, em que estudantes da Universidade de Taubaté dos cursos de medicina e psicologia se uniram para criar uma rede de apoio a população com foco na saúde mental. O projeto oferece acolhimento, palestras e aulas práticas. Para mais informações acesse a página do instagram: @projetofoconamente

Em sua opinião, terapia online funciona em quais situações e perfis de pacientes?

Esse tipo de modalidade já é autorizado pelo conselho de psicologia e agora na pandemia o número de atendimentos online aumentou expressivamente. Por se tratar de uma forma de atuação ainda recente, existem questões sendo levantadas sobre a ética e a forma mais adequada de se realizar, porém já existem normas e estudos que comprovam que esse tipo de atendimento pode ser tão eficaz quanto o presencial. Tenho realizado atendimentos online desde o ano passado, e confesso que me surpreendi com a eficácia mesmo estando distante fisicamente dos meus pacientes. Ela é indicada para pacientes que estejam impossibilitados de sair de casa (problemas de locomoção ou como agora com a pandemia) ou que morem em locais distantes.

Estamos na era digital, precisamos nos adaptar constantemente, ainda mais no quadro atual que temos enfrentado, é sem dúvida uma tendência que veio para ficar.

Que mensagem você como profissional poderia deixar as pessoas nesse momento de grandes incertezas, angústias e transtornos devido a pandemia?

Resiliência! Precisamos criar aspectos de resiliência, que é a forma saudável que lidamos com nossas dificuldades e aquilo que não temos controle, como agora na pandemia. Precisamos encontrar coisas no nosso dia a dia que nos façam nos sentir mais tranquilos e nos ajude a lidar com a ansiedade que nos encontra diariamente.

Ao encontrarmos um problema, seja interno ou externo, precisamos em seguida pensar: posso fazer algo para resolver esse problema? Se a resposta for não, precisamos tomar um cuidado com nossos pensamentos, e lidarmos com isso de forma realista e não aumentar ainda mais esse problema na nossa mente. Se a resposta for sim, que conseguimos resolver esse problema, crie alternativas para aliviar essa questão e não deixe de praticá-las!

Dentro dos aspectos resilientes, não deixe de cuidar da sua saúde física, faça exercícios em casa, leia livros, assista um bom filme ou série, cuide do seu sono, da sua alimentação, e lembre-se de que precisamos ficar afastados uns dos outros, mas não isolados do mundo, use as ferramentas que a tecnologia nos dá para se conectar com quem você gosta, as nossas relações são essenciais para nosso bem-estar e nossa resiliência.

Não esqueça também que todos nós precisamos de ajuda, caso sinta necessidade, busque um profissional da psicologia e faça psicoterapia, se não puder sair de casa existem psicólogos autorizados pelo conselho para atender no formato online.

E por último, não deixe de se mover, precisamos estar em constante crescimento e aprendizado, independente dos problemas que temos enfrentado, não esqueça que o nosso maior limitador ainda continua sendo nós mesmos.   

Entre em contato pelo meu instagram @yanagida.psicologia

extraído:ENTREVISTA COM O TERAPEUTA GUILHERME YANAGIDA | Revista Statto

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