terça-feira, 2 de março de 2021

ENTREVISTA COM A MUSICISTA E EDUCADORA MUSICAL CAROLINA SACCOMANO - revista STATTO



Como você ingressou no mundo da música? Quais pessoas te influenciaram?

Sou a terceira geração de uma família de músicos. Meus avós maternos e minha mãe eram coristas da Igreja Presbiteriana e meu tio avô paterno era violinista e professor de música. Meu pai era músico autodidata, tocava de tudo e tinha muitas influências de diversos estilos musicais. Foi ele que ensinou aos meus irmãos e a mim os primeiros acordes de violão. Meus pais e meus irmãos foram minhas primeiras influências.

Aos nove anos iniciei os estudos de música com minha prima pianista e aos onze anos passei a tocar piano em cantatas e igrejas. Nessa fase fui muito influenciada pela música erudita e sacra com nomes como Bach, Beethoven, Chopin, Clementi e Czerny. Na adolescência ingressei no Conservatório de Música e além do erudito fui em busca de outras sonoridades e assim, absorvi diversos estilos musicais e nomes como Ron Kenoly, Yanni e Joe Satriani foram de grande peso nesse período. Sempre eclética, ouvia de tudo e essa miscelânea ganhou força quando passei a dar aula numa escola de música de uma amiga violonista onde conheci o choro e o rock brasileiro. E nomes como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e diferentes bandas de rock popular se juntaram a esse balaio.

De toda essa musicalidade expressa em diversos estilos, o choro e o rock passaram a ocupar um tempo maior dos meus estudos. Participei de um regional de choro e de uma banda de rock por um curto espaço de tempo, mas intenso o suficiente para solidificar uma boa estrutura do que eu realmente queria para minha carreira como pianista.

E sua trajetória de vida até os dias de hoje. Conte-nos um pouco sobre você e sua história pessoal?

Eu sempre fui da música, embora já tenha tentado sair dessa profissão por inúmeras vezes, pois viver de música em nosso “país musical” é um paradoxo! Então, seguindo o exemplo de minhas primas, migrei para a educação onde passei a dar aulas particulares de música e a lecionar em escolas particulares. Além de tocar em alguns eventos.

Com o passar do tempo a rotina de um profissional independente, o convívio familiar e algumas pressões acabaram sugando a vivacidade de tocar e ensinar. Assim, liguei o piloto automático e acabei me engessando musicalmente. Fechei-me e desisti do som interno. Deixei a música mesmo vivendo dela. Não tinha mais prazer em tocar e meu ouvido também foi se distanciando tanto da musicalidade quanto dos parâmetros fundamentais para um profissional da música.

Fui vivendo uma vida sem muita perspectiva e o brilho da arte acabou se apagando. Cheguei a ter “amusia” e até os outros sentidos como olfato e paladar não eram tão aguçados como antes. As cores também perderam suas informações para mim e a falta de sensibilidade artística havia ocupado o lugar. Dava aulas, mas não tinha prazer.

Toda essa pressão e uma vida desequilibrada contribuíram para o desenvolvimento de uma doença silenciosa, psicossomática e degenerativa, além da obesidade. Retomar ao início e recomeçar o caminho que eu havia perdido foi crucial para que eu pudesse buscar uma melhora física dos sintomas degenerativos e me encontrar novamente como musicista e como mulher. Esse caminho não foi fácil, pois tive que abrir mão de muitas coisas e romper crenças limitantes. Manter o foco em minha fé e o apoio do meu filho e familiares foi fundamental.

Eu não estou fisicamente curada, pois essa degeneração ainda persiste, mas a “amusia” se foi! Ter a mente sadia, sentir o perfume de uma rosa, ter paladar ou me emocionar com uma música são pequenas sensações que eu achava não mais conseguir sentir. Poder sentar em frente ao meu piano, tocar, ter o prazer da sonoridade e do timbre do instrumento, praticar um estudo da minha adolescência ou até me desafiar em tocar uma música que nunca fez parte do meu repertório é de uma felicidade e satisfação que me motivam a continuar no caminho da arte.

Quais os principais desafios como uma educadora musical? Com quais idades você atua?

Ser um educador musical requer muito estudo não só do instrumento, mas da pedagogia em si. De como você passará o conteúdo para seu aluno e como esse aluno está preparado para receber essa informação e assim, aprender e não apenas compreender. Ser um educador é transformar vidas! Você precisa entender que está diante de um ser humano com histórias e emoções. Ensinar música não é apenas pegar um instrumento e repassar uma música para o aluno tocar. Você mexe com a sensibilidade dele, você o incentiva a estudar e a acreditar em si.

Também há a estrutura que envolve uma aula como local, instrumentos, equipamentos que muitas vezes são improvisados. Esse lado do educador é pura criatividade e um pouco de alquimia, pois transformar uma aula sem recursos em aprendizado é para poucos.

Atualmente, minha profissão se divide em educação musical num colégio particular para a educação infantil e ensino fundamental e as aulas particulares de instrumento onde leciono para várias faixas etárias. Destaco a alegria em ensinar um instrumento para a melhor idade. É uma turma deliciosa de se trabalhar! Sem pressa em aprender, são dedicados e as aulas sempre são cheias de ensinamentos. Ambas as partes saem ganhando em conhecimento. Constantemente vencem obstáculos como, por exemplo, da conexão e do celular numa aula por vídeo chamada.

E quanto aos desafios de ser mãe de um adolescente nos dias de hoje, o que poderia nos contar? Ele também é ligado à música?

Digo que voltei a ser adolescente com ele. Ser mãe nessa fase de adolescente é uma total aventura! Ele gosta sim, dos rocks dos anos 70/80 e tem sua guitarra, mas a música não é sua vocação. Ele ama carros e tem me ensinado muito sobre esse universo de motores, drifts, carros tunados e carros antigos…

Acredito que, como toda mãe, as redes sociais me assustam um pouco. Mas tenho conversado muito com ele e procuro ficar a par das suas publicações e dos amigos que ele conversa por vídeo chamada. Ele é um garoto muito inteligente e ao contrário da mãe, extremamente caseiro. Muitas vezes parece o Professor Pardal inventando coisas e procurando soluções para algumas situações rotineiras.

Como é participar de um ministério musical na igreja? Você ainda atua nesse sentido?

Participar do ministério musical e manter minha fé viva foi o reservatório de onde pude me alimentar nessa fase tão difícil que vivi. Ser um ministro é mais que tocar, você precisa imergir em águas profundas, viver uma intimidade com Deus para entender a atuação do Espírito quando estamos ministrando. Muitas vezes presenciei curas e manifestações sobrenaturais durante as músicas tocadas num momento de adoração. Saber conduzir esse momento estando conectado com aquilo que, na outra dimensão está acontecendo é ser o instrumento afinado para o Autor usar.

Algumas pessoas pensam que é só tirar uma música, ensaiar e pronto! Mas é mais que isso, requer muito tempo de estudo não só musical, mas bíblico e de um caminhar com Jesus. Não é só o momento de estar com sua banda tocando. Vai além…

Por isso eu prefiro os caminhos que poucos percorrem: tocar na rua onde muitas pessoas passam e se sensibilizam, visitar pessoas levando a música e, na atual situação, as “lives” onde você consegue atingir gente de diversos lugares.

Atualmente não participo ativamente do ministério musical, mas faço da minha vida um constante ministério exercendo uma função que fui escolhida desde criança.

Quais suas principais influências musicais no Brasil e no mundo?

Constantemente sofro influências que meus amigos mentores me indicam. As maiores de todas, sem dúvida, são Egberto Gismonti e Arismar do Espírito Santo, mas quem também me apresentou esses grandes nomes me influenciaram em estilos inusitados e maneiras de enxergar a música de um prisma totalmente distorcido, haha!

Outro nome que, ultimamente, tenho reaprendido a ouvir é Jacob do Bandolim. Mas também trago nomes de minha infância que não abro mão como João Alexandre, Jorge Redher, Nelson Bomilcar e o maravilhoso Jorge Camargo! Ao piano levanto nomes como Hércules Gomes, Duo Gisbranco, Amilton Godoy, Turi Collura e Cezar Elbert.

As influências internacionais vêm de bandas como Queen e Dream Theater, músicos como M. Shvangiradze e A. Holdsworth, o produtor Ramises B, o compositor M. Nyman e o maestro E. Morricone são nomes que você encontrará na minha playlist. É um balaio com estilos variados!

Quais instrumentos você toca e leciona? Quais métodos você utiliza?

Eu ensino piano, violão, ukulele, escaleta e flauta doce. Sobre métodos, gosto muito do Sistema CLASP de Keith Swanwick. Procuro entender a necessidade do aluno e apresentar os fundamentos da música de maneira mais natural possível. É incrível você ensinar seu aluno a ter intimidade com o instrumento e, somente depois, aprender as estruturas musicais ou executar uma técnica mais aprimorada. É uma satisfação ensinar a música preferida de seu aluno e vê-lo tocar. É realizador ver seu aluno emocionado em ler uma partitura quando, por suas próprias crenças, achava-se incapaz de conseguir.

É possível dar aulas virtuais? Como funciona e até que ponto isso é válido?

Sim! Quando surgiu a pandemia, migrei todas as minhas aulas para o modo virtual. Se o aluno tem um celulares e dados móveis já há possibilidade de se fazer uma aula com qualidade.

Além do material dinâmico, disponibilizo vídeos e suportes para dúvidas. Procuro uma interação constante com o aluno e ele não se sente abandonado ou inseguro em realizar seu estudo virtual. Essa conectividade transforma o aluno em amigo e assim, me conecto com pessoas de todas as idades e de muitas cidades do Brasil e até do exterior.

A personalidade de uma pessoa que toca ou canta é refletida através da música? Fale-nos um pouco sobre isso?

Wittgenstein (1968) disse: “Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo”. A música é uma linguagem, ela é a expressão do que sentimos e vivemos. Quando você toca/canta, você transmite o que está intrínseco em sua alma e por mais simples que seja, não deixa de ser uma manifestação artística. Ao aprender música e desenvolver sua habilidade, você adquire bagagens e ferramentas para trabalhar suas emoções e assim, transmitir sua personalidade.

É através da música que muitos compositores manifestam suas inquietações políticas e sociais e os músicos transmitem suas ideias, crenças e alegrias. As mesmas músicas tocadas por músicos de diversos estilos têm efeito diferente para quem ouve. Ela se torna uma assinatura para alguns e um escape para outros.

O que poderia deixar como mensagem ao público em geral nesse momento de pandemia? O que é essencial e o que é supérfluo?

São tempos de total incerteza, muitas opiniões e diferentes maneiras de enxergar a pandemia. Eu tenho evitado aglomerações, mantido o isolamento social e as normas sanitárias para a prevenção. Conversando com um amigo que uma vez disse estar com medo da Covid-19, questionei se o que ele estava sentindo realmente era medo ou cautela. Ter a responsabilidade de não contaminar seus parentes e amigos não é medo, mas respeito ao próximo. É o princípio do amor e da essência do cristianismo. Eu deixo a mensagem do Apóstolo Paulo: “Que cada um de vocês esteja seguro de estar fazendo o melhor”. (Gálatas 6.4)

Deixe seus contatos para divulgação (redes sociais, YouTube, WhatsApp e etc.):

WhatsApp: https://api.whatsapp.com/send?phone=5511945595336

SoundCloud: https://soundcloud.com/carolinasaccomano?ref=clipboard

YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCrPVILFoVbgtpNZFDEDx0EQ

Facebook: https://www.facebook.com/carolasaccomano/

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extraído: ENTREVISTA COM A MUSICISTA E EDUCADORA MUSICAL CAROLINA SACCOMANO | Revista Statto

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