quinta-feira, 13 de agosto de 2020

ENTREVISTA COM MARTHAN FAUSTINO - revista STATTO

 



Confira a entrevista com Marthan Faustino que atua no mercado da indústria Offshore (instalações petrolíferas), desenvolvendo projetos de soluções e melhorias nas instalações. Dentre outras curiosidades do setor, nos contou um pouco sobre a rotina e preparação de quem trabalha embarcado em plataformas e estaleiros em alto mar!

Formação: Engenharia Mecânica (em curso) –  USU / Rio de Janeiro

Profissão: Projetista

Local nascimento: São Paulo – SP

Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional?

Tenho 40 anos e atualmente trabalho na área de engenharia de projetos industriais, estou no mercado de trabalho há aproximadamente 20 anos. Atuo no mercado da indústria Offshore no detalhamento e desenvolvendo projetos de soluções e melhorias nas instalações petrolíferas, voltado para área de tubulações e equipamentos com utilização de ferramentas 3D.

Na verdade, comecei minha trajetória no setor de informática, trabalhei inicialmente provendo manutenção e montagem de computadores. Sempre tive um perfil de desenvolvedor, em tudo que trabalhei, sempre busquei criar processos que aperfeiçoasse a forma de trabalhar. E seguindo os passos do meu pai pude conhecer a indústria de projetos.

Com meus 15 anos fiz o primeiro curso voltado para desenhos técnicos, o que reforçou a vontade de seguir carreira nesse mercado de trabalho e então fui cada vez mais fundo em busca de cursos e treinamentos específicos e ao mesmo tempo pude começar a realizar pequenos trabalhos junto com meu pai ainda na época da prancheta e lapiseira.

Meu primeiro trabalho no Rio de Janeiro foi em 2003 na UTC no FPSO P37, que estava fundiado no cais do porto onde pude acompanhar de perto o trabalho de campo e fazer parte do projeto de Asbuilt. Em 2004, comecei a faculdade de engenharia mecânica pela USU – Universidade Santa Úrsula e desde então minha trajetória no Rio de Janeiro foi se consolidando. Tive a oportunidade de trabalhar em grandes empresas de engenharia como: Technip, Mana, Quip, Chemtech, Planave, Engevix entre outras, em projetos offshore e Onshore.

Atualmente trabalho na SBM Offshore como Piping designer, na equipe de operações e suporte a frota brasileira, desenvolvendo projetos de engenharia voltados para a área de tubulações industriais.

A área de engenharia de projetos é bastante ampla e você atua tanto Onshore (em terra) quanto Offshore (no mar). Como é a preparação inicial (física, mental, cursos específicos) para se trabalhar embarcado? E como é a rotina dentro das plataformas de petróleo?

Apesar das áreas técnicas estarem conectadas, são duas coisas bem diferentes, como sou desenvolvedor de projetos, o meu dia a dia no escritório é voltado praticamente à computação gráfica criando elementos em maquetes eletrônicas que serão construídas. Um trabalho muito prazeroso por estar com o cérebro em busca da melhor solução.

Já no meu trabalho Offshore tudo muda, toda vez que eu subo a bordo de uma unidade é para fazer o levantamento de informações de campo que serão adicionadas aos projetos. E sim, existem inúmeros riscos envolvidos, desde o deslocamento até a plataforma que é feito por helicóptero em voos que podem durar até 1 hora e meia.

Dentro das instalações Offshore, a planta de processo está viva, com todos os equipamentos, bombas, vasos compressores e tubulações de alta pressão com hidrocarbonetos (petróleo e gás) em pleno funcionamento.

Contudo por ser um trabalho muito dinâmico e estar em movimentação constante, é algo que faz você sentir uma excitação e realmente bem, sem falar que a janela do seu trabalho é um horizonte indescritível.

Porém por conta dos riscos associados, é preciso fazer alguns cursos como CBSP (curso básico de segurança de plataforma) e T-huet (treinamento de escape de aeronaves submersas) que são obrigatórios para todos que embarcam.

E existem outros cursos específicos relacionados às atividades que será executada a bordo, como por exemplo, NR-35 (trabalho em altura) para quem executará um trabalho em um nível elevado e precise do uso de cinto de segurança, NR-33(espaço confinado) caso precise acessar a parte interna de um equipamento. Exames clínicos periódicos para estar apto ao embarque e todos os dispositivos de trabalho eletrônicos como: tablet e notebook devem ser do tipo EX Device, que são equipamentos específicos para trabalhar em atmosferas explosivas.

Ressalto que dentro de uma unidade Offshore, todo trabalho será avaliado, pois a segurança de toda a tripulação deve ser prioridade máxima.

De acordo com estudo da Energy Maritime Associates (EMA) de fevereiro deste ano, os investimentos em FPSOs (Unidade Flutuante de Produção, um tipo de plataforma com forma de navio utilizado pela indústria petrolífera para produção, armazenamento de petróleo e/ou gás natural e escoamento da produção por navios) no Brasil devem chegar a US$ 28,4 bilhões até 2024. Será que alguma coisa mudou com a pandemia atual que acometeu o mundo todo? Como você vê a área de investimentos no setor?

No meu ponto de vista tivemos sim mudanças de cenário por conta da Covid 19,muitas empresas optaram em suspenção de contratos no mundo todo, o que leva a uma desaceleração no mercado mundial.

Porém aqui no Brasil a maior operadora continua com os projetos na mesa, honrando algumas unidades que já estavam em fase de licitação como o caso de Mero 3. O que é um ponto muito positivo e vai além do que está sendo praticado nos outros países.

Você atua hoje numa empresa estrangeira sólida, que tem uma base no Rio de Janeiro, onde você completou recentemente cinco anos de empresa. A frota global da holandesa é composta por 15 plataformas, sendo que sete estão no Brasil: os FPSOs Espírito Santo, Anchieta, Capixaba, Cidade de Paraty, Cidade de Ilhabela, Cidade de Maricá e Cidade de Saquarema. Você já teve ou tem planos de atuar em outros países pela mesma empresa? Apesar de sólida, como a empresa tem visto o cenário brasileiro atual?

Atualmente estou em uma posição consolidada dentro da minha empresa, mas não me fecho a novas oportunidades. Ir para outro país e poder levar um pouco do meu conhecimento e também aprender e receber conhecimento externo é sempre positivo.

No Brasil por conta de fatores políticos e a própria operação Lava Jato, fez com que todos os investimentos ficassem na gaveta por muito tempo e agora que esses projetos começaram a ter uma retomada, na verdade estamos com uma enorme lacuna que precisa ser preenchida. Faltam plataformas, assim como faltam refinarias, novas instalações são necessárias para o desenvolvimento tanto da Petrobras como de outras Operadoras e muitas já têm uma boa parte de concessão adquirida aqui, o que mostra um grande interesse no nosso mercado.

O que faz na prática o Piping Designer (Projetista de Tubulações)? Qual o tipo de levantamentos e informações ele traz ao projeto?

Alguns de meus amigos às vezes quando olham o meu trabalho dizem que estou brincando de construir, na verdade trabalho principalmente com a construção de maquete eletrônica, que é um processo de criação de elementos 3D, que em escala real é o que dá origem ao produto final nas plataformas.

Meu trabalho consiste muitas vezes em ir a bordo de uma plataforma de petróleo coletar informações especificas do local, às vezes as instalações sofreram alguma mudança ou a construção foi feita diferente do projeto original; e após coletar tudo eu lanço dentro do software 3D, criando um ambiente que mescla a instalação existente com instalação futura assim fornecendo uma solução mais adequada possível de acordo com cada projeto.

É uma área bem remunerada? O que você diria a um jovem que tem interesse em entrar nesse mercado? É possível ingressar sem conhecer pessoas que já atuam na área?

Atualmente nosso país sofreu com uma baixa muito grande de trabalhos novos, já no quesito remuneração, já tivemos em patamares bem mais elevados, mas a falta de trabalho é algo que assola todos os setores atualmente o que causa uma queda quase que geral nas remunerações. Mas é sim uma boa remuneração e se destaca em relação a muitas outras profissões ainda.

O que posso dizer é que esse mercado irá sim ter uma forte retomada, pois o desenvolvimento só é dado com novas obras, novas infraestruturas. Então aquele que estiver pronto e preparado no momento certo terá sua chance de ingressar na frente daqueles que começaram a preparar quando o mercado já estiver aquecido.

É possível ter qualidade de vida, tempo para a família e ainda gerar uma boa produtividade no trabalho? Como é o fluxo de entrega, prazos e etc.? Muito exaustivo?

Administrar o tempo às vezes é um pouco difícil, como trabalho para a operação das unidades, quando ocorre algum problema, tem que ser solucionado o mais rápido possível, alguns deles podem causar um shutdown (parada total) em toda a plataforma, o que exige uma resposta rápida, pois os prejuízos por paradas são enormes e podem até gerar multas por atraso na produção e nesses casos, a entrega e cobrança são bem elevados porque nós queremos sim fazer o possível e o melhor para a solução dos problemas.

Como é o ambiente a bordo das plataformas? Tem uma boa infra tanto para o trabalho como descanso e lazer? E a escala para ficar a bordo e descansar em terra, como funciona?

Por trabalhar sob confinamento, as instalações das áreas internas costumam ser muito boas, com fornecimento de boas refeições diárias e ao menos mais três paradas para café durante o dia de trabalho, uma verdadeira briga para quem tem problemas com a balança… (ahahaha!).

As instalações ainda contam com bons dormitórios, que são limpos diariamente e salas de recreação com jogos, academia e algumas até tatames para pratica de artes marciais. Ainda na área interna, algumas unidades permitem o uso de Smartfones para facilitar a comunicação com os familiares, e ainda existem cabines telefônicas com uso liberado 20horas por dia.

Normalmente é um ambiente agradável onde às pessoas buscam ajudar e estar próximas para minimizar os efeitos do confinamento. Para cada dia embarcado você tem o direito a um dia de folga, para pessoas que trabalham em regime de embarque direto é basicamente 14 dias abordo e 14 dias de descanso.

E quem é o Marthan na vida pessoal? Hobbies, lazer, o que faz para aproveitar o tempo em casa?

Eu sou pai de duas meninas, Giovanna e Alicia e sou casado, minha esposa Elaine é uma guerreira. Quando estou embarcado é ela quem segura às pontas com as duas ferinhas, mas podemos sim aproveitar bons momentos em família, com viagens, passeios, é muito bom poder reservar um tempo e conhecer novos lugares.

Adoro pescar o que me dá uma paz e conexão com a natureza e jogar paintball, o que me traz adrenalina…, mas no momento, estou mais trocando fraldas que qualquer coisa. Gosto de inventar refeições com frutos do mar e na churrasqueira eu mando bem também. Definitivamente estar com quem gostamos como amigos, parentes e família, são o que me faz mais feliz.

O que você diria para as pessoas que estão enfrentando imensos desafios e aos que perderam suas fontes de renda principal com a pandemia? Existe luz no fim do túnel?

Estamos realmente vivendo tempos difíceis de confinamento e algumas pessoas ainda tiveram suas rendas diminuídas eu até mesmo zeradas, eu acredito que os momentos difíceis nos fortalecem e mostram do que somos feitos e até onde podemos suportar. Traçar um horizonte sólido e robusto é importante para nos manter firmes, porque aqueles que persistem no final serão vitoriosos.

Contato:

https://www.linkedin.com/in/marthan-faustino-duarte-390b1756/


extraído 
https://revistastatto.com.br/lifestyle/entrevista/entrevista-com-marthan-faustino/











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